Anfiteatro Colina de Camões

Vista do Anfiteatro Colina Camões, na Quinta das Lágrimas

Anfiteatro Colina de Camões

Quinta das Lágrimas, Coimbra

Um projecto de arquitectura paisagista nasce e tem de ficar marcado por três factores: (i) as características do local, (ii) as ideias e a criatividade do projectista, (iii) os desejos e os sonhos do cliente. Outras peças podem ser importantes, mas estas são as essenciais. Todas se cumpriram na Colina de Camões na Quinta das Lágrimas.

O anfiteatro da Colina de Camões foi desenhado tendo presente as características do local, com tudo o que este oferecia e condicionava. Primeiro, a colina com quase 20 metros de altura, do cimo da qual se via Coimbra e o seu monte sagrado; depois a água que define o local como nenhum outro elemento, depois a mata e os jardins que vêm do tempo da Rainha Santa Isabel. Na colina desenhou-se o anfiteatro e para a água foi desenhado o lago redondo com 18 metros de diâmetro rematado a pedra grossa como a do Lago seiscentista das Lágrimas que fica perto, e que se enche por gravidade com água daquela nascente milenar; esta água que – passando pelo lago redondo e espelhando o céu, as árvores centenárias, as bancadas e o palco com artistas quando há festa – volta por gravidade a ser entregue ao canal do lagar, seguindo depois para as regas e para o Mondego.

Ecologicamente nada se perde, esteticamente muito se ganha.

O cliente, a Fundação Inês de Castro, tinha intenções claras: queria resolver de uma vez por todas os problemas das cheias em enxurrada e terminar a recuperação dos jardins e mata da Quinta das Lágrimas, que tem sob sua tutela. O anfiteatro encontra-se em ponto de charneira entre o edifício “Quatro Elementos”, de Gonçalo Byrne e já deste século, e a mata centenária, dialogando com as fontes das Lágrimas (século XVI), a Fonte do Amores (Século XIV), o jardim romântico do Século XIX.. Pretendia-se fechar este anel de pontos de beleza e de história, garantir percursos de ligação à mata, mas ao mesmo tempo criar um espaço que respeitasse o espírito do lugar e dos seus elementos. A surpresa para a Fundação foi, para além da vista sobre a mata e as fontes, a vista sobre Coimbra que o anfiteatro permite gozar: Como projectista a minha intenção foi desvendar as capacidades do local e a Fundação aceitou.De mim saiu também uma vontade há muito alimentada, de criar um grande espaço a céu aberto onde se pudesse fazer música no verão com bons intérpretes, bons compositores e um cenário de árvores, água e prado para que num só momento, se pudessem conjugar o gosto pela música e o gosto pela natureza. A música ao serviço da paisagem ou a paisagem ao serviço da música, e foi proposto à Fundação juntar este potencial do espaço como objectivo do projecto.

No desenho que tem o centro no lago, sublinhei o contraste entre a pedra branca e a sombra que faz sobre a relva porque se conjugam (em ângulos sempre diferentes por causa do movimento do sol) o verde, o branco e a cor da sombra. Desenhei as bancadas, desconstruindo-as ao longo de arcos , para jogar com este efeito do sol, relva e sombra. É o princípio seminal da land art: manifestar bem clara numa intenção estética a presença dos processos naturais.

Coordenação de Projecto

Cristina Castel-Branco

Assistência de Projecto

Miguel Coelho de Sousa

Área

3 ha

Estado

Construído

Cliente

Hotel Quinta das Lágrimas

Data

2008

Observações

Este projecto ganhou Prémio Nacional de Arquitectura Paisagista em 2008 na categoria de Jardins Privados