Renovação do Jardim da Praça do Império
Renovação do Jardim da Praça do Império
Lisboa
O Jardim da Praça do Império, em Belém, Lisboa, situado a sul do Mosteiro do Jerónimos (inscrito na lista de Património Mundial da UNESCO em 1983) e a nascente do Centro Cultural de Belém e por eles enquadrado, constitui parte incontornável e de enorme centralidade no conjunto monumental que integra, ainda, a Torre de Belém e para que contribuem, secundariamente, o Padrão dos Descobrimentos, o Planetário e Museu de Marinha, entre outros edifícios e sítios notáveis deste espaço icónico da cidade. Trata-se de um lugar de excepcional significado na história marítima do País e no modo de relacionamento do espaço urbano com o Tejo e que, por isso, congrega múltiplas memórias e oferece essenciais momentos de paisagem, ambos imprescindíveis para a construção da
identidade de Lisboa.
A Renovação do Jardim da Praça do Império (2016-2023) iniciou-se em 2016 com a abertura, pela Câmara Municipal de Lisboa, de um concurso de autoria anónima, aberto a ateliers de Arquitetura Paisagista, para a elaboração de um projeto de renovação, sendo o júri presidido pela Dr.ª Simonetta Luz Afonso. O
resultado do concurso é apresentado a meio do ano de 2016 tendo sido selecionado o projeto de ACBArquitetura Paisagista, com quem a CML celebrou um contrato para a realização do Projeto, no último dia de 2016.
O Projeto de Execução, elaborado em estreita articulação com a Direção Municipal de Estrutura Verde, Ambiente e Energia, é entregue em Janeiro de 2019 e após a Revisão do Projeto pela CML e ajustes por ACB, é aberto o concurso de empreitada o qual foi ganho pela empresa Decoverdi Plantas e Jardins S.A., no final de 2020.
A demonstração que se poderia destilar do processo de restauro deste trecho de paisagem cultural aponta para as áreas de investigação em que arquitectos paisagistas e académicos das áreas da paisagem se têm debruçado. A complexidade da abordagem ao espaço exterior patrimonial desenhado e construído é grande, segundo Ian Thompson por se encontrar “entre três impérios”: as ciências naturais, as ciências sociais e as artes e humanidades. O restauro da Praça do Império ilustra bem a transdisciplinaridade da abordagem. Se por um lado foi necessário aplicar conhecimentos de hidráulica e botânica, solos e fitopatologia, por outro as ciências sociais foram essenciais para dirigir as decisões quanto ao uso intenso do espaço que a passagem para a lista de património mundial conferiu ao duo Mosteiro dos Jerónimos-Torre de Belém, tornando o jardim um local de passagem de milhões de turistas.
As ciências naturais foram muito úteis para a análise e tomada de decisão sobre a vegetação existente e as novas propostas e os técnicos da Câmara colaboraram intensamente com os projetistas para soluções que irão dar volume e beleza ao espaço e para a remoção de vegetação obsoleta e mal crescida, tendo havido pontuais discordâncias de caminho mas, no geral, conseguindo-se proveitosos consensos. A hidráulica e a pedologia que “ninguém vê” são conhecimentos essenciais para o manuseamento e sucesso dos jardins. Os solos onde se iriam fazer novas plantações e sementeiras foram melhorados e controlados assegurando um crescimento futuro essencial ao objectivo do projecto. A rega e a drenagem foram estudadas e conseguidas com a participação da engenharia hidráulica que faz parte integrante da maioria das intervenções de ACB. A colaboração estreita entre arquitectos paisagistas e o engenheiro hidráulico permite responder ao desejo de um espaço resiliente e capaz de responder às grandes chuvadas que já aconteceram atempadamente, como que para o testar: a drenagem mista implementada teve um desempenho completo face à excepcional intensidade das chuvadas do inverno 2022/2023
Das matérias das ciências sociais foi necessário trazer ao desenho colaborativo da equipe os princípios basilares de projecto em espaço público onde a segurança (dos pavimentos e das inter-visibilidades), o conforto do atravessamento ou da estadia à sombra (nos relvados e sob as copas das árvores, nos bancos ou nas cadeiras movíveis) e, ainda, a beleza e a história que, em camadas sucessivas, se haviam depositado na Praça do Império (ligação visual com o Mosteiro dos Jerónimos, projecto de Cottinelli Telmo, corte do espaço pelas vias da Marginal- Av. da Índia, caminho de ferro da linha de Cascais, Av. Brasília).
Nas áreas de História e Património muito trabalho de recolha e integração de informação (nomeadamente ao nível do Arquivo Fotográfico Municipal) havia sido feito pela equipe da Câmara de Lisboa que preparou os elementos do concurso de 2015-16 e que, tal como os dados da evolução da paisagem, foram muito úteis aligeirando decisivamente a necessidade de investigação histórica e permitindo maior celeridade na incorporação de conhecimento histórico que alimentou a proposta de intervenção. Face ao projecto que, de início, preparámos também foi indispensável a submissão ao órgão colegial da Direção-Geral do Património Cultural com o qual a equipe reuniu múltiplas vezes, afinando sistematicamente o projecto aos requisitos patrimoniais.
O projecto é, assim, demonstrativo de uma colaboração saudável e, como afirma Ian Thomson, de um “trabalho disciplinar cruzado, o que sugere que os métodos das três culturas podem ser criativamente entrançados. Os arquitectos paisagistas estão bem colocados para facilitar ou participar nestas colaborações pois são profissionais interdisciplinares por natureza, capazes de juntar e sintetizar perspectivas e formas de pensar muito diferentes e, da mesma forma, capazes de falar a linguagem dos estetas, dos agrónomos ou dos arqueólogos.“ A equipe de ACB-Arquitectura paisagista, ao longo destes seis anos, teve tempo e abertura metodológica para ir incluindo e colaborando com as várias especialidades e foi-lhe útil a preparação transdisciplinar que recebeu na sua formação, robustecida pela sua já longa prática. O tempo de ponderação foi-lhe útil, a capacidade de falar a linguagem das ciências, das artes e da sociologia foi-lhe indispensável e esta é uma primeira demonstração deste projecto.
Coordenação de Projecto
Cristina Castel-Branco e Carlos Ribas
Assistência de Projecto
João Crisóstomo, Luísa Correia, M. Leonor Gomes Ferreira, Raquel Carvalho, Rafael Pereira
Área
3,6 ha
Estado
Construído
Cliente
Câmara Municipal de Lisboa
Data
2016 – 2023